Para os metaleiros perdidos um pouco por todo este vasto mundo, é uma banda que dispensa qualquer tipo de apresentações, representando um alicerce imutável que, para muitos, ajudou a definir todo um estilo. Como uma das formações pioneiras do famoso movimento “New Wave of British Heavy Metal”, trouxe uma sonoridade nunca antes ouvida, carregada de linhas de guitarra épicas e uma energia eletrizante, capaz de sugar toda a atenção de qualquer ouvinte. Contam já com quatro décadas de existência, tendo lançado trabalhos ao longo dos anos, uns melhores, outros piores, tendo, consciente ou inconscientemente, influenciado inúmeras bandas que se seguiram. É, sem dúvida, o meu grupo favorito, que me acompanhou desde a adolescência até agora, sem nunca perder espaço para as músicas aliciantes que iam saindo, ano após ano, permanecendo uma presença assídua nas minhas listas de reprodução. Posto isto, decidi navegar por uma “aventura” ingrata, que é a de ranquear este cardápio de luxo sonoro, entregue a nós, humildes apreciadores de arte, por estes génios das terras de Albião. Como é evidente, esta lista é extremamente parcial e corresponde, apenas, à minha visão do trabalho deles, não representando qualquer verdade absoluta quanto à qualidade dos álbuns aqui falados.
17
No Prayer for the Dying (1990)
Para os entendidos, esta posição não será, de todo, uma surpresa. Figura constante no (des)top 3 de piores álbuns para a maioria dos fãs, é um disco sem grande inspiração, onde a maioria das músicas parecem “restos” de outros lançamentos superiores. A voz forte e impactante a que Bruce Dickinson nos habituou, toma uma forma mais ríspida e arranhada, que não agradou em nada a maioria dos ouvintes. Outro aspecto a ter em conta, prende-se com o facto de ser o primeiro álbum desde a saída do acarinhado guitarrista Adrian Smith, um músculo de peso no processo criativo da banda, muito saudado neste e noutros trabalhos posteriores. Apesar de tudo, não considero um lançamento mau, apresentando uma ou outra música com qualidade elevada, contudo, não ao nível de outros álbuns muito mais relevantes.
Nota |
7.2 |
Melhor música:
16
The X Factor (1995)
Mais uma posição que não irá trazer grande espanto, visto ser considerado por muitos um dos piores trabalhos da “Donzela de Ferro”. É o primeiro de dois álbuns sem uma das grandes figuras do grupo, Bruce Dickinson, que foi substituído por Blaze Bayley, uma opção rica em controvérsia. Ao contrário do alcance incrível de Bruce, Blaze apresentava uma voz mais grave e limitada, que, apesar de tudo, caiu bem no som mais obscuro e lento deste álbum, composto numa fase difícil da vida do líder do grupo, Steve Harris. Ainda que a nível sonoro seja um lançamento coeso, a falta de energia das músicas e o timbre diferente do novo vocalista lançaram esta entrada para a obscuridade, marcando-o como um ponto baixo na carreira dos Maiden. Caso não fossem as três primeiras faixas, este seria um candidato de peso à última posição da tabela.
Nota |
7.5 |
Melhor música:
15
Virtual XI (1998)
Para a quase totalidade dos fãs, este é um trabalho pior do que o anterior, e consigo perceber porquê, afinal de contas, tem a que para mim é a pior música da banda, “The Angel and the Gambler”. Nove minutos de repetições excessivas e uma sonoridade pouco usual, lançam esta faixa para os anais da mediocridade, chegando a “roçar” o ridículo musical, se é que tal coisa existe. Contudo, se conseguirmos ignorar esta enorme atrocidade aqui caída, o resto do álbum conta com músicas de qualidade, bem mais enérgicas que as do lançamento anterior, e, para mim, isso torna-o numa experiência auditiva mais interessante. Resumindo, este último suspiro de Blaze Bayley é uma tentativa sólida do grupo, onde tudo o que é preciso é carregar no botão de seguinte quando chega a segunda faixa, mas, ainda assim, fica aquém da mestria instrumental de outros discos, o que o coloca neste modesto lugar da minha lista.
Nota |
7.5 |
Melhor música:
14
Killers (1981)
Apesar de eu gostar do timbre e energia do primeiro vocalista de interesse dos Maiden, Paul Di’anno, e considerar os dois álbuns que ele lançou com a banda de uma qualidade elevada, não consigo deixar de preferir os lançamentos clássicos com Bruce ao leme, que, para mim, é o “frontman” definitivo da “Donzela”. Numa altura em que ainda tentavam encontrar o seu rumo musical, são notáveis as influências “punk” que Paul trazia para a mesa, o que não seria um problema para a maioria das pessoas, no entanto, como fã de heavy metal clássico, é algo que me faz um pouco de confusão. Há quem prefira Killers ao lançamento homônimo do ano precedente, opinião que não podia discordar mais, considerando estas músicas como as que não conseguiram entrar no superior álbum, “Iron Maiden”.
Nota |
7.6 |
Melhor música:
13
Book of Souls (2015)
Se esta espécie de top que estou a tentar fazer fosse sobre a qualidade das capas, este estaria entre os primeiros, sem qualquer dúvida. A simplicidade do fundo preto, aliada à imagem grotesca, mas artística, do adorado Eddie, convida-nos a imaginar a cultura e misticidade do magnífico mundo dos Maias, reinventado à imagem desta mascote, claro. No que toca à musica propriamente dita, infelizmente, fica muito aquém do esperado, onde todas as faixas soam um pouco como a anterior, dando uma confusa ideia de continuidade, onde não sabemos muito bem onde estamos nem para onde vamos. Junto a isso, em algumas partes podemos notar o esforço de Bruce a atingir as notas mais altas, o que dá a ideia de que deviam ter seguido com composições mais graves, bastante mais amigáveis da capacidade vocal atual deste gigante artista. De realçar, contudo, a qualidade dos solos de guitarra, principalmente por parte de Adrian Smith, um verdadeiro “deus” das seis cordas.
Nota |
7.7 |
Melhor música:
12
Fear of the Dark (1992)
Continuando a tendência que tinham começado em “No Prayer for the Dying”, “Fear of the Dark” mantém o som mais cru e ríspido, tanto das partes vocais como dos instrumentos propriamente ditos, numa tentativa clara de retornar às suas origens mais simples, o que alienou ainda mais uma boa parte dos ouvintes, habituados ao som refinado dos sintetizadores usados na década de oitenta. Este lançamento, que viria a ser o último de Bruce antes de retornar em 2000, não é, de todo, um mau trabalho, tendo introduzindo ao mundo clássicos como a faixa com o nome do álbum, e outras como “Judas Be My Guide” e mesmo “Wasting Love”. No entanto, músicas como “The Apparition” fazem-nos perceber que não é dotado de uma coerência definitiva, apresentando composições de nível bastante dúbio.
Nota |
7.7 |
Melhor música:
11
The Final Frontier (2010)
Durante muitos anos, este álbum esteve muito pior classificado nas minhas preferências, chegando mesmo a figurar entre os três últimos. Há quem o adore e quem o deteste, e eu pertencia à última categoria. Os problemas de que me queixei no Book of Souls podem ser, facilmente, encontrados aqui, num conjunto de sons um tanto homogêneos e aborrecidos que não nos permitem destingir na perfeição qual música estamos a degustar. Para além disso, em alguns momentos, podemos sentir a dificuldade vocal de Bruce a atingir determinadas notas mais ambiciosas, sendo possível observar, de forma melancólica, a discrepância do que é agora para o que foi nos tempos dourados. No entanto, com exposição repetida, este disco foi subindo na minha estima, ocupando, aos poucos, uma posição mais elevada, muito por culpa de obras-primas como “Starblind” e “El Dorado”.
Nota |
7.8 |
Melhor música:
10
Iron Maiden (1980)
Ainda que não adore esta fase “primitiva” da banda, tenho que admitir que este lançamento foi um pilar de muita relevância para definir um estilo, tendo tido um papel de suma importância na criação da identidade do grupo. É agressivo e incisivo, com músicas enérgicas como “Prowler” (uma das melhores faixas de abertura que já ouvi) e “Iron Maiden”, sem perder a melodia harmoniosa e quase transcendental que podemos ouvir em “Strange World” e “Remember Tomorrow”, duas composições capazes de criar um ambiente incrível em qualquer lugar que sejam ouvidas. No que toca a álbuns de estreia, é, para mim, o pináculo da perfeição, que viria a começar um legado de sonho, capaz de vencer as adversidades das eras musicais que se seguiram, onde, infelizmente, o metal foi perdendo espaço.
Nota |
7.8 |
Melhor música:
9
Brave New World (2000)
Pelo que tenho visto, a grande maioria dos fãs tem grande estima por este álbum, e não é para menos, atenção! Este lançamento veio acabar com a pior era da banda, um período menos conseguido com Blaze e a razia musical que foi a década de noventa, que, infelizmente, afetou muitas bandas clássicas que foram incapazes de manter a sua qualidade. A reunião que tantos sonhavam de Bruce com os seus antigos companheiros trouxe uma frescura eletrizante ao som desgastado e cansado dos lançamentos que o precederam, reaproximando-os à sonoridade perdida da década de oitenta, mas sem nunca o atingir, verdadeiramente. Aquele heavy metal tradicional e viciante que eles próprios ajudaram a criar, deu lugar a um estilo mais progressivo e rebuscado, que ainda hoje é possível ouvir nos seus trabalhos. Não é perfeito, mas conseguiu dar um largo passo em frente em termos qualitativos, conseguindo alimentar as esperanças dos mais negativistas.
Nota |
7.9 |
Melhor música:
8
Seventh Son of a Seventh Son (1988)
Pelo que tenho visto nas listas de vários admiradores da banda, esta posição não podia ser mais estranha e bizarra. Presença constante nos tops 3 da grande maioria das pessoas, este álbum de 88 continuou o rumo aventureiro que o grupo seguiu em “Somewhere in Time”, recorrendo a um som mais rebuscado e refinado com o uso de sintetizadores, aumentando a atmosfera envolvente em cada faixa. Apesar de gostar da ideia conceptual do disco, e achar que a grande maioria das músicas exprimem na perfeição o oásis criativo pelo qual passavam naquela década, algo que não sei explicar não joga comigo, empurrando este lançamento para longe do antecessor, muito superior para o meu gosto musical. De realçar que foi o último álbum com Adrian Smith antes deste regressar em “Brave New World”.
Nota |
8.1 |
Melhor música:
7
Senjutsu
Aparentemente, e para minha surpresa, existe uma espécie de “síndrome” de adoração por lançamentos recentes, que induz um estilo de euforia no ouvinte à medida que o mesmo vai degustando os sons acabados de sair, permanecendo alheio à verdadeira qualidade do álbum em questão. Talvez por isso, ou talvez por outros motivos, Senjutsu entra na minha sétima posição sem qualquer tipo de arrependimento ou indecisão. Como muitos outros, certamente, nunca nos meus sonhos mais esmerados imaginei que ainda tivessem a capacidade de produzir algo assim, refrescante e cativante, fazendo-me ouvir vezes e vezes sem conta as dez faixas aqui contidas. Obviamente, há altos e baixos, sendo preciso alguma coragem para ouvir as três músicas épicas de Steve Harris, que, apesar de boas, podiam ser encurtadas ligeiramente. Contudo, pérolas como “Darkest Hour” e “Stratego” sobem a fasquia a níveis que já não eram atingidos em quinze anos ou mais.
Nota |
8.2 |
Melhor música:
6
Dance of Death (2003)
Mais uma decisão controversa, no mínimo. Embora criticado pela maioria dos entendidos, há algo neste lançamento que me fascina cada vez que o ouço, levando-me numa viagem alucinante ao passado. Foi um dos primeiros álbuns da “Donzela” a que tive contacto, fator que marcou para sempre a minha visão desta mal amada “obra-prima”. Atenção, eu sei que está longe de ser um trabalho perfeito e tem os seus notáveis problemas, contudo, o aspecto sentimental leva, claramente, a avante nesta disputa milenar entre racionalidade e emoção. Apesar dos pontos negativos, podemos encontrar músicas de grande qualidade, como por exemplo “Dance of Death” e “Paschendale”, verdadeiros ícones da sonoridade moderna do grupo. De realçar que é a pior capa de toda a discografia da banda, o que não abona muito a favor do disco, porque, quer queiramos quer não, acabamos sempre por julgar um livro pela capa.
Nota |
8.4 |
Melhor música:
5
Piece of Mind (1983)
Aqui, entramos no verdadeiro “Panteão dos Deuses”, onde todos os álbuns que vou falar são verdadeiras odes não só ao Heavy Metal, mas como à música em geral, tatuando a banda para sempre nos anais intemporais da história. Lançado no verdadeiro apogeu das suas carreiras, quando a química entre os artistas era palpável e quantificável, podemos ouvir uma coletânea de sons quase mágicos, onde cada nota serve para um propósito apenas, o de admirar o ouvinte. Para mim, as cinco primeiras faixas são dos melhores inícios que um disco pode ter, marcando o passo para os dois lançamentos posteriores, ainda melhores que este. Foi o primeiro lançamento com o baterista Nicko McBrain, uma verdadeira “besta” rítmica, dotado de um repertório de batidas invejável, tal como é possível ver na faixa de abertura, que ainda hoje nos admira com o seu talento singular.
Nota |
8.6 |
Melhor música:
4
A Matter of Life and Death (2006)
Tal como aconteceu com Dance of Death, este lugar será recebido com espanto e, talvez, estupefação, tamanha a natureza controversa de toda a sonoridade tentada neste álbum, fugindo, pouco a pouco, aos sons mais tradicionais a que nos tinham habituado. Se me perguntarem porque o coloco numa posição tão cimeira, tenho algumas dificuldades para me explicar, sabendo, perfeitamente, as inúmeras fraquezas aqui encontradas, mas, no entanto, é um dos lançamentos que mais vezes ouço quando as saudades apertam, talvez guiado por um lado irracional, ou talvez não… É negro e, por vezes, um pouco denso e monótono, carregado de letras sobre guerra, com uma forte mensagem social. Não encontramos nenhuma música épica que se destaque das outras, como acontece em quase todos os trabalhos do grupo, no entanto, como um todo, funciona na perfeição, conseguindo transportar-nos para o ambiente carregado e atmosférico do mundo da “Donzela”, onde uma faixa parece se misturar com a próxima, numa harmonia elegante, sem acusar o longo tempo de duração, que bate os setenta e dois minutos.
Nota |
8.7 |
3
Somewhere in Time (1986)
Não fosse pela faixa final “Alexander the Great”, este álbum estaria ainda mais acima, atingindo uma espécie de perfeição que seria difícil de bater, contudo, e como nada é perfeito, o terceiro lugar terá de chegar. Lançado na era de ouro do metal, serviu de achas para alimentar a fogueira musical de qualidade elevada que vigorava na altura, com inúmeras bandas a lançarem, ano após ano, trabalhos de qualidade fenomenal, num verdadeiro repositório de luxo, nunca mais mimetizado. Foi a primeira tentativa do grupo em utilizar sintetizadores e o resultado não podia ter sido melhor, transformando o som mais estridente que já dominavam em algo mais polido e atmosférico, que caiu que nem uma luva com o tema futurístico da capa e do próprio Eddie.
Nota |
8.9 |
Melhor música:
2
The Number of the Beast (1982)
O primeiro trabalho com Bruce Dickinson nos vocais apanhou o mundo da música desprevenido, quase como uma tempestade que seguiu a bonança, onde ninguém ficou indiferente à energia contagiante que o novo vocalista trazia, aliando uma presença de palco inigualável com uma voz dotada de um alcance inacreditável. Se passarmos os olhos pelas faixas aqui presentes, podemos sentir um calafrio álgido a percorrer-nos, tamanha a qualidade estratosférica de tudo que aqui se encontra. Não fosse pela faixa “Gangland”, que admito, não sou fã, seria o número um incontestável, não só na discografia dos Maiden, como em todas as outras. Neste cardápio de luxo, devo realçar a música “Hallowed be Thy Name” como uma verdadeira ode a ser adorada e estudada, sendo, possivelmente, a melhor composição a ser criada nos tempos modernos. Por tudo isto e muito mais, “Number of the Beast” é um pilar importantíssimo na indústria, tendo pavimentado o caminho para futuras gerações de metaleiros ávidos por seguir os seus ícones.
Nota |
9 |
Melhor música:
1
Powerslave (1984)
O que há para dizer sobre “Powerslave”? Muitas coisas, com certeza, mas vou tentar resumir ao máximo…é uma obra-prima! É enérgico, é feroz e é ambicioso, juntando tudo o que a banda tinha aprendido até então de uma forma astuta e sagaz, pondo um término no percurso começado em “Number of The Beast”, antes de se aventurarem por outros caminhos menos conservadores. Música após música somos arrebatados com riffs eletrizantes e solos impensáveis, que sem nos apercebermos, levantam-nos os pés do chão de uma forma natural e corriqueira, à medida que acompanhamos as batidas contagiantes aqui tocadas. Por mais que tente, não consigo apontar um ponto fraco de realce, apesar de saber que existe, distanciando-o assim, ligeiramente, do álbum de 1982.
Nota |
9.2 |